Depressão: quando a alma adoece (Parte 1)
O que leva à depressão e como tratar esse problema
Quantas vezes você já teve vontade de chorar horas seguidas?
Já fechou os olhos e desejou que a situação vivenciada, por ser dura e cruel,
fosse parte de um sonho? Você já se sentiu desanimado, sem coragem de sair de
casa? Lembra-se de dias em que o simples pensar em levantar da cama lhe
apavorava? Recorda-se da dor que sentiu quando perdeu um membro de sua família?
Tem por vezes a sensação de que seu mundo ruiu e que você está só, sem poder
receber ajuda mesmo daqueles que se oferecem?
Momentos de tristeza, de agonia, de dor e frustração fazem
parte de sua vida cotidiana. Você vive em um mundo onde problemas, dores e
morte são inevitáveis, onde vivencia situações que geram ansiedade, estresse,
tristeza e melancolia. E onde a depressão, que há mais de dois mil anos é
reconhecida como um mal que acometia algumas pessoas, nos dias atuais é
classificada como uma doença que pode levar à morte. A depressão é, sem dúvida,
o grande mal do século. Publicações em todo o mundo têm discutido suas causas e
efeitos, e anualmente, em todo o mundo, são gastos milhares de dólares em
pesquisas sobre o assunto, além de milhões de pessoas que gastam bilhões de
dólares comprando antidepressivos.
Depressão não é um simples estado emocional, é uma doença de
causa orgânica, quando um descontrole na química cerebral atinge certas áreas
corticais. Estudos mostram que baixos níveis de neurotransmissores, como a
serotonina, substância principal para a sensação de bem estar e controle de
humor, estão associados a crises depressivas.
É uma doença crônica, recorrente, muitas vezes com alta concentração de
casos na mesma família.
Antes da puberdade, o risco de apresentar depressão é o
mesmo para meninos ou meninas. Mais tarde, ele se torna duas vezes maior no
sexo feminino. Ter um dos pais com depressão também aumenta de duas a quatro
vezes o risco. Além disso, alterações hormonais também favorecem o surgimento
da depressão – o que explica a grande ocorrência entre adolescentes e jovens ,
fazendo com que fiquem persistentemente irritados e tristonhos, comprometendo
as relações familiares, as amizades e a performance escolar.
Para os jovens, um episódio de depressão pode ser indicado
pela presença de cinco ou mais dos seguintes sintomas, quase todos os dias, por
um período de pelo menos duas semanas:
• Insônia (falta de sono) ou sono exagerado;
• Agitação psicomotora, do tipo que a pessoa não consegue
parar quieta nem quando dorme;
• Apatia, quando há
uma sensação de que as emoções não estão sendo vivenciadas como deveriam,
causando um desânimo geral;
• Cansaço ou perda de energia;
• Sentimento exagerado de culpa ou de inutilidade;
• Diminuição da capacidade de concentração e de pensar com
clareza;
• Pensamentos recorrentes de morte, de pensar em suicídio,
ou a vontade de assistir programas sobre
morte, ou mesmo pesquisar temas suicidas na internet;
• Estado de espírito depressivo e pessimista durante a maior
parte do dia;
• Interesse ou prazer pela maioria das atividades claramente
diminuídos;
• Diminuição do apetite, perda ou ganho significativo de
peso na ausência de regime alimentar (geralmente, uma variação de pelo menos 5%
do peso corpóreo);
• Vontade de se isolar da família e de amigos, a não ser que
eles também cultuem um comportamento mórbido e triste.
Desencadeada por uma situação inesperada ou indesejada, a
depressão pode, em graus extremos, levar à reclusão, ao afastamento dos
familiares, provocar outras doenças de fundo psicossomático e, na última das
hipóteses, levar à morte. É ela, por exemplo, uma das principais causas, além
da ação e incentivo de Satanás, para o ato suicida.
Sabe-se que há etapas anteriores ao estado depressivo, estágios
que se sucedem e aprofundam os sintomas, levando o indivíduo ao estado
depressivo. O primeiro é o que chamamos de estresse, que geralmente é causado
por uma conjunção de fatores, como horas de sono abaixo do necessário, excesso
de atividades e má alimentação. Quando você não se cerca de cuidados
necessários para o descanso e bem estar do seu organismo, surge uma sensação
permanente de desconforto, um cansaço mental e físico permanente, fadiga,
agitação, apatia e irritabilidade.
Deus nos deu exemplo do quanto repousar corpo e mente é
importante. Encontramos na Bíblia ordenanças até mesmo quanto ao descanso da
terra, e vemos que Jesus muitas vezes separou alguns dias para descansar. Lemos
na Bíblia que devemos cuidar do nosso corpo, pois ele é santuário do Espírito
Santo. O cotidiano agitado e desregrado, em que o sono da madrugada é trocado
pelas conversas na internet, abre a porta para doenças físicas e emocionais,
fazendo com que haja uma preocupação excessiva com as coisas e fatos, tornando
os dias poucos prazerosos, roubando a alegria e ânimo para grandes e pequenas
realizações.
Você é um ser pensante, inteligente e racional, com a
capacidade e obrigação de analisar as situações para decidir como organizar
melhor o seu tempo, fazendo uma agenda dos compromissos, estruturando a sua
vida da melhor forma possível. Se você tem pensado sobre um problema horas e
horas, mas sem analisá-lo com clareza, sempre se atendo ao lado negativo e
imaginado a pior solução possível, precisa mudar sua forma de pensar.
Muitos jovens propõem para si mesmos metas impossíveis, que
demandam mais tempo do que desejam.
Outros se apaixonam por pessoas erradas e
teimam que vão fazer o(a) outro(a) gostar dele, esquecendo-se que nós não
decidimos pelo outro. Há ainda os que querem ser os mais populares, as mais
bonitas, os mais sarados e fortes, e por conta disso perdem amigos e magoam
pessoas queridas. Pessoas assim vivem num mundo irreal por meses – e quando
acordam se frustram, se decepcionam e se
entristecem, muitas vezes entrando num movimento de “ninguém me quer”, “ninguém
me vê”, “não vou conseguir, não sou ninguém”. Surge o medo, o pânico, a
sensação de que tudo está caindo sobre a sua cabeça, que seu mundo ruiu.
Por conta da perturbação no sono, da alteração de apetite,
da falta de perspectiva de futuro e da alegria, da idéia recorrente de suicídio
e morte, além de dores generalizadas, a depressão é uma doença cruel, que afeta
corpo e mente, e que, sem dúvida, tem sérias implicações espirituais.
No meio evangélico, esse assunto tem gerado muitas
controvérsias. Não há dúvida de que a depressão pode ser fruto de erros e
pecados e da vida estressante e ansiosa que vivemos. Mas, primeiramente,
entenda que é uma doença, que, como já dissemos, tem estágios e causa orgânica,
e em alguns casos são indicados remédios específicos para a sua cura. Muitos
entendem que toda e qualquer tristeza ou depressão é só de fundo espiritual, e
esquecem-se de que a Bíblia é cheia de exemplos de homens de Deus que ficaram
deprimidos e melancólicos. Lemos que Moisés sentiu-se estressado e ansioso por
causa de sua grande responsabilidade em conduzir os hebreus pelo deserto, a
ponto de seu sogro ajudá-lo a definir prioridades. Elias, profeta de fogo e de
fé, escondeu-se com medo em uma caverna e deixou-se levar pela depressão a
ponto de perder o sono, as forças e o apetite. Jeremias retrata sua lamentação
e melancolia em seus escritos.
Davi, homem segundo o coração de Deus, retrata em muitas
passagens os sintomas da depressão que hoje conhecemos. No Salmo 38,
encontramos alguns: “Estou encurvado e muito abatido; ando lamentando todo o
dia. Os meus lombos estão cheios de dores; não há coisa sã na minha carne.
Estou fraco e totalmente quebrantado; dou gemidos por causa da angústia do meu
coração. Senhor, diante de ti está todo o meu desespero, o meu gemido não te é
oculto. O meu coração está agitado, as forças me faltam, até a luz dos meus
olhos se me deixou”.
Podemos, sim, ficar estressados, ansiosos, tristes,
desanimados e depressivos. Somos humanos e imperfeitos, vivendo em um mundo
cheio de injustiças. Nem tudo o que nos acontece tem como pano de fundo só uma
perspectiva espiritual. Muitas vezes colhemos frutos de nosso descaso para com
o descanso corporal, de uma criação familiar que incutiu em nós insegurança e
baixa auto-estima, de situações adversas e dolorosas que maltratam nossa mente
e coração.
Autora: Dra. Elaine Cruz
Fonte: CPAD News